O Centro de Arte Contemporânea W abre sua programação em 2021 com as
artistas Del Pílar Sallum e Weimar

(...) A montagem de Para não me perder de mim, permite ao público da região
conhecer parte da produção recente de Del Pílar, depois de sua passagem pelo
MARP - Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi em 1997,
quando recebeu o Prêmio do 22o SARP - Salão de Arte de Ribeirão Preto,
realizado na Casa da Cultura. Com forte carga autobiográfica, sua obra revela
valores que investem na carga alegórica da arte, de maneira a conservar em cada
pequeno episódio performado para o vídeo ou as cenas impressas, fragmentos de
seu corpo como elementos que refletem em outras existências e narrativas
pessoais. É o caso do vídeo em que a artista tenta vestir as luvas de sua mãe em
uma luta com a memória e o intransponível passado. Na obra Com o véu imposto
diariamente, realizada durante o período pandêmico, ecos e ressonâncias do
corpo alheio, em particular de amigas e amigos artistas que também se
encontravam em um tipo de solidão forçada em virtude das políticas de isolamento
em decorrência da crise sanitária, Del Pílar reforça o que está posto na montagem:
o vínculo direto com uma ideia particular de coletividade isolada. Mãe de
profissionais atuantes na linha de frente do novo coronavírus, a experiência da
artista foi levada às últimas consequências, por viver em estrito isolamento por
mais de um ano, sem nenhum contato com seus familiares e colegas da
comunidade artística.

O título da exposição faz menção a uma obra da artista, datada de 2004, ocasião
em que ela deu início à pesquisa que resultou em seu doutorado em Artes Visuais
na Unicamp. A fotografia reimpressa volta ao convívio com duas obras inéditas,
dezessete anos depois, de maneira a ser reinventada por este cenário resultante
das últimas crises humanitárias globais.(...)

A presença de Del Pílar Sallum na ocasião em que a programação do CAC W é
retomada conjuntamente com o lançamento do livro da artista fundadora do
espaço e a montagem de Panoramas noturnos, reforça o compromisso do Centro
de Arte com a difusão da cena artística do interior paulista. O fato de ambas
artistas terem atingido uma pesquisa densa com práticas preservadas ao longo de
décadas; o fato de terem mais de 60 anos e serem atuantes no circuito cultural de
suas cidades e ativas em suas práticas, são argumentos que reforçam o programa
do CAC W, o qual consiste em promover encontros destas cenas muitas vezes
preservadas em contextos de extrema desarticulação ou desprovidas de políticas
públicas, o que ocorre com tantas outras mulheres artistas da mesma geração.

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Yolanda Cipriano e Josué Mattos

2021